Por: Pedro Afonso.
O molinete em questão é um produto OEM (Original Equipment Manufacturer) importado pela empresa Marine Sports que há muito tempo disponibiliza equipamentos de pesca no mercado brasileiro, sempre direcionados ao publico popular.
Acompanhando a evolução do mercado e da própria pesca a Marine Sports direciona esse molinete a aqueles pescadores praticantes da pesca vertical ou de arremesso que buscavam um produto confiável porém não muito caro, o tão falado custo x benefício.
Seguem os dados do molinete anunciados pela marca:
Relação de recolhimento: 4.9:1
6 rolamentos de esferas + 1 rolamento de roletes
Freio com regulagem ponto a ponto
Manivela com infinito anti-reverso
Manivela de alumínio com punho super-reforçado
Super freio: 3 arruelas de aço inox + 3 arruelas de carbono com teflon.
Cap. de linha: mm-m: 4000: 0.40–190 / 0.50–120
Analisando esses dados, a priori, podemos dizer que é um molinete de tamanho médio, a relação de recolhimento fica na média tanto para o pincho quanto para jigging, possui uma boa capacidade de linha, quantidade de rolamentos suficiente e drag forte. Vamos conferir na pratica.
Algumas fotos do equipamento:
Pessoalmente considero o molinete muito bonito, a composição de cores ficou muito legal dando um ar bem sóbrio. Lembrando que isso é apenas uma opinião pessoal e não influência em nada no desempenho do equipamento.
O fabricante não anuncia o peso mas esse é de 560 gramas (sem linha) o que é muito bom para o tamanho do molinete. O carretel comportou 275 m de multifilamento 0,29 mm Sufix 832 mas como ocorriam cabeleiras com frequência uma pequena quantidade de linha foi retirado ficando com aproximadamente 250 m onde os nós cessaram.
Outra coisa que observei logo de cara foi o grande vazado no "pé" do molinete, certamente para reduzir o peso e dar algum tom estético arrojado (?) mas pessoalmente não gostei pois isso enfraquece o corpo do molinete deixando mais sensível a esforços maiores. Casos de quebras dessa parte em molinetes acontecem sempre decorrentes desse tipo de construção.
Um zoom no carretel:
Ele distribui a linha muito bem e possui o nome desenhado de forma bem bonita. Tenho que ressaltar que o SS 4000 arremessa bem longe, fruto dessa distribuição de linha uniforme e do formato cônico do lábio do carretel, não se sente muito atrito durante a liberação da linha.
O botão de regulagem da fricção:
O botão possui um selo (circulo vermelho) que completa a primeira parte do sistema de vedação frontal do carretel. Manuseá-lo não é muito simples principalmente para quem possui mãos grandes ou se estiverem molhadas, escorrega dos dedos com facilidade.
Desmontado a peça:
As partes: 1- Capa do botão que possui os dentes do clicker. 2- Mola helicoidal. 3- Porca do eixo. 4- Anel retentor. 5- disco de compressão onde fica o clicker. O sistema é bem simples e funciona muito bem.
A capa do botão possui os dentes que produzem o barulho típico quando entram em contato com o clicker marcando ponto a ponto a regulagem da fricção. Não ocorreu desgaste desses dentes mesmo após o botão ser muito manuseado.
Indo para o drag:
O disco superior que segura todo o conjunto dos demais discos possui um rolamento central blindado (seta amarela) e seu encaixe onde o selo do botão de regulagem se encaixa. O intuito da adesão de rolamentos nessa parte vem sob a alegação de fornecer uma saída de linha mais suave, ainda que seja mais um toque estético do que funcional.
Os discos que compõem o sistema de fricção:
O conjunto é composto por 3 discos de carbono + teflon e 3 discos de aço inox fora o grande disco superior. Os discos vem muito bem lubrificadas de fabrica. A principio o molinete libera a linha de forma macia e constante mas conforme vai se aumentando a pressão a liberação de linha se torna mais ríspida, principalmente quando próximo do limite máximo de pressão exercida pelos discos. Seria melhor ao invés destes discos rígidos de carbono + teflon terem utilizado o carbontex (tecido de carbono).
O grande disco superior que retém o conjunto possui um anel de borracha (seta amarela) ao seu redor completando a vedação frontal do drag. Mesmo possuindo um duplo sistema de vedação frontal a água foi capaz de adentrar e permanecer nos superiores, isto indica uma folga entre o selo e o seu encaixe.
O clicker do carretel é interno e se localiza logo abaixo do conjunto de discos da fricção. O projeto é simples composto por um arame dobrado e dentes que são feitos no próprio carretel, o contato entre essas partes quando o carretel gira produz o barulho típico da liberação de linha. Não ouve diminuição do barulho apesar de não ser tão audível.
A base do carretel:
O eixo ( Linhas azuis) e o suporte do carretel que consiste de um rolamento (seta vermelha) colocado aqui com a premissa de aumentar a fluidez na liberação de linha e discos plásticos (seta amarela) para evitar sentar a base do carretel diretamente em metal e permitir alguma vedação. A vedação não se mostrou muito eficiente já que a água encontrou caminho para os discos tanto por cima quanto por baixo mas o protegeu bem de partículas sólidas como a areia.
Tenho que salientar que a configuração do suporte do carretel é muito muito boa por ser simples é bem flexível e permite a retirada e adesão de calços para ajustar altura do carretel e com isso modificar a distribuição de linha quando conveniente.
O rolamento e os calços plásticos: O rolamento é do tipo aberto e apesar dos calços terem barrado a entrada de partículas sólidas não protegem contra a água. O ideal é que no mínimo fosse blindado para uma melhor proteção ou selado para diminuir a necessidade de manutenção constante. Os calços servem para proteger contra a entrada de partículas sólidas e sua remoção ou adesão permite regular a distribuição de linha.
O eixo:
Possui uma grande espessura e é muito robusto, não há problemas com essa parte. O hub do carretel é de bronze/latão e é fixado permanentemente ao eixo. É necessário abrir totalmente o molinete e remover o eixo para que o rotor saia .
Desmontando o corpo:
Removendo a porca que fixa o rotor no pinhão podemos retirar o rotor. Ele é feito de grafite o que não é uma coisa ruim considerando o drag máximo e a modalidade em que foi utilizada bem como o tamanho do peixes capturados. Sua leveza contribui para o peso reduzido do molinete e o material utilizado em sua construção não sofre corrosão.
A manivela é rosqueada diretamente na coroa. Trata-se de um método de fixação superior que aumenta a eficiência na transmissão de força para o recolhimento além de proporcionar um encaixe mais firme e livre folgas, mais forte e mais durável.
A manivela:
É muito forte e bem acabada, não apresentou folga ou algo do tipo. A manopla é bem grande e feita de um material que se firma bem na mão, mesmo molhada não escorrega dos dedos. O escudo com o nome da marca pode ser retirado removendo os dois parafusos mas a pegada não sai pois é fixada permanentemente na manivela. Não é bem um problema visto o preço do equipamento mas seria melhor que fosse possível remover a manopla para a devida limpeza e lubrificação.
Detalhe do parafuso de fixação:
Sistema mais eficiente, forte e durável do que o eixo de fixação sextavado que é propenso a apresentar folga no decorrer do tempo e uso contínuo além de ser mais fraco e sujeito a quebra mais facilmente.
Um detalhe interessante do encaixe:
O parafuso possui uma parte mais grossa (5) que se fixa no lado esquerdo girando no sentido horário e uma mais fina (4) que se fixa no lado direito girando no sentido anti-horário.
Sendo a parte fina que se fixa no lado direito do molinete:
E a parte grossa do parafuso no lado esquerdo do molinete:
Removendo os parafusos da tampa lateral. Ela é feita de alumínio. Isso é um ponto positivo já que molinetes bem mais caros possuem esta parte feita de grafite.
Rolamento lateral. Serve de apoio para a coroa permitindo que gire livre de atrito. Se encaixa bem no lugar.
O mecanismo interno:
Removendo a tampa lateral temos acesso ao coração do molinete. Muito metal cinza aqui.
O mecanismo é bem simples e não há nenhuma novidade. O sistema de oscilação de trilho básico é composto pelo bloco transversal (X), engrenagem de oscilação (X) e o carril que consiste em um bloco de metal aparafusado no corpo (X) que serve para guiar o movimento do bloco mantendo estabilizado e eliminando qualquer folga. Típico de um equipamento de baixo custo, já que os mais caros possuem uma precisão na fabricação que elimina essa necessidade. Design simples e que a vários anos se mostra funcional. Uma coisa que observei é que o equipamento já vem devidamente lubrificado e pronto para ser utilizado, essa atenção é muito incomum e não havia visto anteriormente em produtos nessa faixa de preço.
Removendo os componentes móveis podemos visualizar melhor o interior do corpo: os encaixes. Existem dois parafusos (círculos vermelhos) ao redor do rolamento da coroa, eles também existem ao redor do mesmo rolamento na tampa lateral e seguram o escudo dourado que fica ao redor do encaixe da manivela.
Detalhe do conjunto de oscilação, moldado em liga de zinco/alumínio (zamac?). Funcionaram bem e possuem boa durabilidade.
A coroa:
Construída em liga de zinco/alumínio fundida com o eixo de aço inox, já vem devidamente lubrificada como já mencionado.
Ela teve uma boa taxa de desgaste para o tipo de esforço que foi exposta, mas não é nada excepcional. Ligas de zinco/alumínio fundidas não representam o que há de melhor para a fabricação desse tipo de peça. A leveza e baixo custo são seus louros.
Para o anti-reverso:
|O conjunto do anti-reverso é seguramente preso em seu recesso por um ring que é fixado por 5 parafusos sendo uma parte muito bem colocada e bem feita.
Removendo o ring:
Temos acesso ao rolamento central. De bom tamanho.
Dando um zoom no o-ring que retém o sistema de anti-reverso. Peça muito bem construída como já comentado.
Uma olhada na posição do anti-reverso. A peça se encaixa muito bem aí.
As peças em posição de funcionamento. Por fora e da esquerda para direita: Rolamento central, anti-reverso e manga. No centro o pinhão.
Detalhe do pinhão:
Feito em latão não ocorreu muito desgaste nele e é bem mais durável do que a coroa. A engrenagem principal deveria ter construção semelhante para ser mais durável. A mancha negra que se encontra na base do pinhão nada mais é do que partículas plásticas misturadas a graxa decorrentes do atrito com a bucha sintética em que o pinhão se senta. Não é bem um problema mas não é feito para uma durabilidade excepcional. Um projeto superior exigiria um rolamento aqui.
Uma olhada no rolamento central.
Percebe-se algumas manchas ao redor da capa do rolamento, fruto talvez do contato com água do mar. O molinete não é totalmente selado portanto a entrada de água salina se dá sem problemas necessitando de manutenção periódica e completa.
Uma olhada no anti-reverso:
O mesmo projeto comum de roletes de aço inox e molas plásticas em V moldadas no próprio interior do rolamento, uma manga interna que envolve o pinhão e um disco metálico.
Tenho que que deixar um elogio a essa parte pois o SS 4000 quando novo possui muita pouca folga no rotor e com o uso contínuo mesmo por vários meses não houve variação. A peça executa muito bem mas desenvolveu um barulho semelhante a um rangido. Após ser limpo e levemente lubrificado voltou ao normal.
Mecanismo de arme-e-desarme da alça:
Sistema simples onde uma mola de tração (X) segura a haste do braço quando dobrado e um cão (linha azul) de desarme que a fecha quando bate em uma das várias destravas internas do rotor. O sistema segura bem a alça durante o arremesso mas eu recomendaria retirar o cão de desarme para se evitar qualquer inconveniente.
O rolete:
Também uma peça simples onde se buscou a economia de recursos. Só existe um porém:
Em vez de possuir um rolamento no centro há uma bucha de plástico no local. O rolete é a peça que mais gira em um molinete e ter aqui um rolamento é essencial para o funcionamento adequado dessa parte. Atestou-se que vez ou outra o rolete parava de girar sendo necessário a limpeza constante dessa peça para o funcionamento correto. Se o rolete parar de girar isso forçara atrito desnecessário na linha que poderá corroê-la e por fim leva-la a desfiar e se partir. Claro que é possível a substituição da bucha por um rolamento mas seria muito bem visto se já viesse com um e o preço não aumentaria exorbitantemente.
Conclusão:
O molinete é muito bom para o preço que custa, seu o valor de venda no varejo era em torno de R$ 240. Possui muitas qualidades: arremessa muito bem, a manivela é rosqueada diretamente na coroa, pegada muito firme e que não escorrega, anti-reverso que não apresentou folga mesmo sob uso contante. Claro que sofre de deficiências como o uso de uma bucha sintética ao invés de um rolamento no rolete, coroa construída em liga de zinco/alumínio, a falha óbvia na usinagem na rosca da coroa onde se parafusa a manivela e o chassi vazado. Coisas que obviamente foram feitas propositalmente dessa forma para reduzir os custos de fabricação e manter o preço do produto dentro da proposta do produto (custo x beneficio) Ao meu ver os prós superam os contras e o SS 4000 se tratava de uma excelente opção disponível nessa categoria, pena que saiu do mercado.
Abraço a todos que tiveram a paciência de ler
muito bom meu amigo, Sabe dizer se é possível achar um desses pra vender?
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