sábado, 7 de março de 2015

Sobre a arremessabilidade dos molinetes

Por: Pedro Afonso


      Para quem pratica a pesca desembarcada com artificiais na beira da praia ou sobre pedras (surf e rock fishing), poder arremessar as iscas o mais longe possível não é só preferível, é quase uma obrigação. As vezes a distância onde podemos encontrar os peixes é muito grande e contar com um equipamento que nos permita colocar a isca justamente onde precisamos é fundamental e recompensador. Entre as variáveis que são fundamentais para nos garantir alcançar longas distâncias a cada lance temos a ferramenta de arremesso e recolhimento preferida pelos praticantes dessa modalidade, o bom e velho molinete.
      Aliando simplicidade a facilidade no manuseio o equipamento se popularizou sendo a principal escolha da maioria dos pescadores quando pretendem entrar no mundo da pesca amadora. Com sua origem remontando ao inicio do século passado o molinete sofreu uma evolução fenomenal nos ultimo 20 anos alcançando níveis de desempenho sem precedentes, desses níveis hoje abordaremos o que pode ser considerado como um dos principais pontos para quem pesca desembarcado: a arremessabilidade.


Características de um molinete que arremessa bem:

    Como dito houve uma rápida evolução nas capacidades dos molinetes, então vou citar as que mais contribuem para um desempenho superior que nos garante uma maior distância alcançada nos arremessos. Todas elas atuam para reduzir o atrito que a linha sofre durante sua liberação do carretel e permitir que ela seja ejetada da forma mais suave possível.  Portanto este é o ponto chave para se alcançar distâncias maiores nos arremessos: reduzir ao máximo possível o atrito.   

    Os itens 1 e 2 são os mais importantes para se determinar a arremessabilidade de um molinete. Os itens 3 e 4 apesar de otimizarem a distância do arremesso, o fazem em menor grau, devendo ser citados por servirem como ponto a se considerar como diferenciação entre equipamentos que apresentem certa paridade nos dois primeiros itens. Comecemos: 




1- Distribuição de linha:


    A principal característica de um molinete que contribui para que seja uma ferramenta com desempenho superior em distância nos arremessos é a distribuição de linha. Atualmente com a evolução dos mecanismos de oscilação conseguiu-se acomodar a linha de forma mais uniforme e firme, garantindo além de um alcance maior do arremesso, menores problemas referentes a cabeleiras e outros inconvenientes. 

    O que leva o molinete que distribui a linha de forma mais uniforme a arremessar mais longe é o fato dos fios estarem distribuídos em camadas mais justapostas, necessitando-se de um menor numero dessas camadas para se acomodar uma mesma quantidade de linha. Isso implica que durante sua liberação, a linha muda menos de sentido pois essas camadas que saem são superficiais e o volume de linha liberado é o mesmo, só que exerce menos atrito entre si e contra o lábio do carretel, isso garante uma maior distância percorrida pela isca decorrente do menor desperdício de energia. 


    Na comparação abaixo as setas vermelhas indicam a regularidade com que a linha fica estabelecida no carretel dos molinetes:



    Modelos que distribuem a linha como esse acima (Shimano Stella SW) são melhores arremessadores, permitem alcançar distâncias maiores nos arremessos com maior facilidade e exigem menor esforço por parte do pescador, além de reduzirem as dores de cabeça provenientes de inconvenientes como cabeleiras e etc. 



  Modelos que distribuem a linha como o acima (Van Staal VS series) são arremessadores limitados que alcançam distâncias inferiores e exigem mais esforço na hora do arremesso para se conseguir um bom alcance. Uma distribuição de linha irregular ainda aumenta a possibilidade de inconvenientes para o pescador como as constantes cabeleiras em um dia de muito vento.  

Sistemas de oscilação:

    O sistema de oscilação ou de distribuição de linha é o mecanismo interno do molinete que faz o movimento de ir e vir do carretel (ciclo) acontecer e aliado ao movimento rotativo do rotor acaba distribuindo a linha pelo carretel. Quanto mais lento o sistema for, ou seja, quanto maior for  o numero de voltas da manivela necessário para o carretel completar um ciclo, melhor distribuída será a linha.

   Molinetes que utilizam sistema de oscilação por engrenagem sem-fim levam vantagem pois seu ciclo é mais lento o que faz com que a linha seja distribuída de forma mais igual e apertada no carretel.

Sistema de distribuição de linha por engrenagem sem-fim. 


    Molinetes cujo sistema de oscilação é o de engrenagem sem-fim levam vantagem nos arremessos pois a linha é melhor acomodada no carretel. 



   Apesar de ser o mais comumente encontrado na maioria dos molinetes pois é mais simples e barato de se produzir, o sistema de oscilação por carril (trilho) foi evoluído, o que o levou a atingir níveis de desempenho na distribuição de linha bem próximos ao da engrenagem sem-fim. Cabe aqui dizer que essa excelência é mais facilmente encontrada em equipamentos mais caros pois a precisão e qualidade na fabricação somados à engenharia avançada, leva a golpes cronometrados que fazem com que a linha seja administrada mais uniformemente. 

Sistema de oscilação por carril (trilho). 



    Molinetes que possuem sistema oscilatório superior como o Daiwa Catalina distribuem a linha muito melhor e se aproximam daqueles que utilizam engrenagem sem-fim quando comparamos as distâncias alcançadas nos arremessos. 



2- Largura e comprimento do carretel:


   Outro fator importante que contribui para se alcançar grandes distâncias nos arremessos é a largura e altura do carretel. Molinetes long cast possuem carreteis altos e largos por razões óbvias: a linha é liberada principalmente pelas camadas superficiais e muda menos de sentido, tudo isso reduz o atrito com o lábio do carretel diminuindo a perda de energia transferida para a isca. 

  Típico molinete desenvolvido para surfcasting, possui carretel alto e largo o que garante em boa parte o desempenho superior nas distâncias alcançadas durante o arremesso, característica intrínseca desse tipo de equipamento. 

     Molinetes com carreteis mais largos e compridos (x verde) arremessam mais do que aqueles que possuem carreteis menores e mais curtos (x amarelo). 




3- Ângulo do eixo central do molinete em relação ao blank da vara:


     Essa é uma questão menor que não depende apenas do molinete em si,  mas que deve ser observada no momento em que estamos montando o conjunto. O ângulo do eixo central do equipamento em relação ao blank da vara deve acompanhar a distância e altura dos passadores de forma que a linha seja liberada de forma mais intuitiva e se ouça menos o atrito com os guias.     

       Portanto ao se comprar um molinete devemos observar a altura, distância e o raio interno dos passadores da vara em que o utilizaremos de forma que o ângulo de saída da linha seja o melhor. 


Os vários modelos existentes no mercado possuem diferentes angulações.





4- Lábio do carretel:


    Mesmo sendo uma variável não muito decisiva para se obter maiores distâncias nos arremessos, temos que notar que o lábio do carretel é o único ponto onde a linha atrita durante sua saída portanto sendo importante que seja projetado para reduzir a perda de energia durante esse contato. Conforme a linha vai saindo do carretel as espirais que partem das camadas profundas mais próximas do carretel vão atritando contra o lábio do carretel causando perda de energia transferida para a isca. 

    Para solucionar isso a Shimano criou o propulsion spool lip um projeto que vem sendo copiado por outras grandes marcas como Daiwa e Quantum. Esse sistema consiste no formato cônico do lábio onde a inclinação faz com que as espirais de linha saiam menores atritando menos com os passadores e o blank da vara e reduz problemas com nós durante o arremesso. 


   Comparação entre a liberação de linha com o lábio inclinado (esquerda) e o projeto padrão encontrado na maioria dos molinetes (direita), o primeiro libera a linha em camadas menores que atritam menos com os guias e blank das varas. 


Quais os melhores arremessadores encontrados no mercado?


       Excluindo-se os molinetes voltados para surfcasting pois não são desenvolvidos para a pesca de pincho, e apesar de serem os campeões em arremesso, não apresentam bom desempenho nessa modalidade. Focaremos nos equipamentos próprios para pesca  com artificiais ou que possam ser utilizados sem problemas.

      Dentre as marcas que fabricam os melhores arremessadores do mercado temos a Shimano e Daiwa, seguidos por Penn, Okuma e etc. 

      O modelo voltado para pesca de pincho que apresenta o melhor desempenho de arremessabilidade é o Shimano Stella SW seguido dos carros-chefe da Daiwa (Saltiga e Isla) e seus demais modelos secundários junto aos da Shimano,  sendo seguidos pelos tops de linha das demais marcas. 


    Com base nessas informações podemos buscar e selecionar os equipamentos disponíveis no mercado que possuam essas características, portanto que mais se adequem a pesca com artificiais desembarcado, investindo assim em algo que realmente supra nossas necessidades. Espero que aproveitem e tenham tido uma boa leitura pois escrevi da forma mais clara e objetiva que pude, visando sempre compartilhar o que aprendo com os demais. Abraço a todos.